12 de agosto de 2015

[RESENHA + QUADRINHOS] Sex Criminals Volume 1 - One Weird Thing

Posso estar exagerando, mas talvez você nunca vá ler algo tão divertido, interessante e até mesmo educativo quanto esta série. Considerada uma série apenas para maiores, há questionamentos que deveriam ser lidos e refletidos por jovens ainda na puberdade e adolescência.
Suzie é apenas uma garota comum com um dom incomum: quando ela faz sexo, ela para o tempo. Um dia ela conhece Jon e descobre que ele tem a mesma habilidade. E mais cedo ou mais tarde eles vão sair por aí usando seus dons para fazer o que nós todos gostaríamos de fazer: roubar alguns bancos.

Quando Suzie quebra a tal da quarta parede e vai revivendo e nos contando sua história em forma de um bate-papo descontraído, ela vai repensando suas ações, o que levou ela e Jon ao extremo, assaltar bancos. A história inicia com o pai de Suzie sendo morto e sua mãe sofrendo por isso. É nesse momento que ela entra na banheira em casa e se masturba. Ao atingir o orgasmo, ela percebe que o tempo parou. Agora vejam bem: uma garota, na puberdade, que sofre pela recente perda do pai, que sabe apenas a teoria sobre masturbação, descobrindo que parou o tempo. A coisa piora quando ela descobre que nenhuma outra garota mais sexualmente experiente do seu colégio consegue fazer o mesmo.

É aqui que os questionamentos começam. Antecipando um detalhe sobre a arte da obra: quando Suzie para o tempo, os quadros respectivos a isso têm um ar bastante onírico, um tom mágico. Seria essa uma metáfora sobre a masturbação/o sexo e o prazer sentido com ele e o próprio orgasmo? Essa coisa mágica, divina que se sente ao se tocar ou ser tocado. Uma coisa que é difícil de descrever, mas que nos leva para um outro estado de espírito.

Em 2014, Sex Criminals foi indicada ao Eisner Award, nas categorias de Melhor Série e Melhor Série Estreante, vencendo a segunda. — Wikipédia
 Sem entender nada do que está acontecendo, Suzie se torna o seu próprio projeto, ela começa a se estudar. Em um caderno ela anota tudo sobre O Silêncio (The Quiet, em inglês) – quando ela faz o tempo parar –: como ela entrou, quanto tempo ficou lá, como saiu, etc. Não pensem em Suzie como uma adolescente depravada que não parava de se masturbar, mas sim em uma menina curiosa, tentando descobrir seu próprio corpo e dom. E não seria mais ou menos isso que acontece ao longo das nossas experiências sexuais? O que gostamos de fazer com um parceiro? O que não gostamos? Quais suas áreas erógenas?
I needed more data. I would become my own subject. I started to record every bit of information I could. Lots of little girls have diaries. I had my PROJECT. I recorded everything as I learned the rules of what things were like inside The Quiet. How I got in, how I got out. How long I was there - hard to tell time when time doesn't move, y'know? (T.L.: Eu precisava de mais dados. Eu me tornei minha própria matéria. Comecei a anotar cada informação que pude. Várias garotinhas tinham diários, eu tinha meu PROJETO. Anotei tudo ao longo do que ia aprendendo de como eram as coisas n’O Silêncio. Como entrei, como saí. Quanto tempo passei lá – difícil dizer quando o tempo não passa, não é?!)
E então aparece Jon. Quando menos pensou em encontrar o cara certo em sua vida, lá está ele: um aspirante a ator que trabalha num banco e é apaixonado por Lolita tanto quanto Suzie é. Na cama, na hora do sexo, é quando eles descobrem que não é só a paixão por livros que os torna semelhantes: Jon também consegue parar o tempo, o que faz com que Suzie não seja única no mundo.

Matt Fraction também é conhecido pelas séries The Immortal Iron Fist e The Invincible Iron Man.
As descobertas sexuais de Jon são diferentes das de Suzie, mas mais importante ainda é o seguinte: ele só se mantém dentro d’O Silêncio enquanto não está pronto para outra rodada. Ao atingir o orgasmo e entrar n’O Silêncio, Jon fica lá o tempo que quiser, mas assim que ele sentir vontade de fazer sexo novamente, ele sai. Para Jon, não é The Quiet, e sim Cumworld – um nome bem engraçado, por sinal.

Um lugar que Jon poderia chamar de casa seria o Cumworld (nesse caso, uma loja de produtos eróticos). Ao parar o tempo, Jon ia nessa loja roubar vídeos eróticos e assistir a todos eles. Depois veio o sexo e suas experiências. Quando ele começa a contar para Suzie das suas experiências e cita o nome George, ela se assusta ao saber que ele já transou com um homem. O mais legal disso é ver o que cada um aprendeu com essas inúmeras experiências.

Ao começar a agir com irresponsabilidade, roubando bancos com a ajuda de seus dons, Suzie e Jon atraem para si a atenção de uma espécie de equipe responsável por proteger as pessoas que são capazes de parar o tempo quando transam. Suzie e Jon estão, segundo esses policiais do sexo, pondo esse outro mundo em risco, quase os expondo. E é num roubo a um banco que eles são confrontados pelos tais policiais.

O mais interessante e importante dessa história é ver, sob o ponto de vista adulto, como um adolescente trata o sexo. Ao longo do que os protagonistas vão comentando sobre suas aventuras, podemos notar o quão verossímeis elas são, o quão presentes no cotidiano elas estão.

Como mostrado nas imagens acima, a arte dessa série não poderia ser mais linda. Algo montado com o máximo de cuidado possível. O Silêncio é lindo, com essa atmosfera mágica já mencionada antes. Os personagens são bem desenhados, as cenas de sexo são muito bonitas, os órgãos sexuais quase não aparecem (o pênis de Jon é mostrado vez ou outra).

[+] Cenas preferidas – contém spoiler:
• Rachelle ensinando as posições do kamasutra a Suze;
• A segunda e terceira edições completas.

Roteiro: Matt Fraction | • Arte: Chip Zdarsky | • Número de Páginas: 140 páginas 
Classificação: 4 estrelas

I think I thought sex was something like taxes: a thing grownups did(...) It was like I had eggs, milk, sugar, butter, flour... and had no idea how to turn it all into a cake. (T.L.: Acho que pensava sexo como algo parecido com táxis: uma coisa apenas para adultos(...) Era como se eu tivesse ovos, leite, açúcar, manteiga e farinha... e não tivesse a menor ideia de como transformar isso num bolo.)

Gostaria de pedir desculpas se os nomes que citei aqui não estão iguais à tradução, mas o volume que li estava em inglês e não procurei as respectivas acepções. Fora isso, a leitura é muito fácil (mesmo em inglês). As palavras se repetem muito, o que faz com que se pegue o dicionário poucas vezes. A linguagem coloquial é bem simples.

Não é uma história que ofende, que tem um teor sexual gritante, que choca com membros gigantes ou sei lá o quê. É tudo muito delicado!

[+] Veja também os seguintes links relacionados:
Selva de Gafanhotos – Andrew Smith;
Cinema #18: Cinquenta Tons de Cinza;
Juliette Society – Sasha Grey;
Mara Dyer #1: A Desconstrução de Mara Dyer – Michelle Hodkin

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