4 de maio de 2015

Selva de Gafanhotos - Andrew Smith

Autor: Andrew Smith
Editora: Intrínseca
Gênero: Ficção Científica
Número de Páginas: 352 páginas
Número de Estrelas: 2 estrelas
Skoob: Selva de Gafanhotos
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Na pequena cidade de Ealing, Iowa, Austin e seu melhor amigo, Robby, libertam acidentalmente um exército incontrolável. São louva-a-deus de um metro e oitenta de altura, completamente tarados e famintos. Essa é a verdade. Essa é a história. É o fim do mundo e ninguém sabe o que fazer. Com todos os elementos obrigatórios de um romance apocalíptico, Selva de gafanhotos mistura insetos gigantes, um cientista louco, um fabuloso bunker subterrâneo, um mal resolvido triângulo amoroso-sexual e muita, muita confusão, e está longe de tratar apenas do fim do mundo. Engraçado, intenso e complexo, o livro fala de um jeito inovador de adolescência, relacionamentos, amizade e, claro, de temas um tanto mais inusitados, como testículos dissolvidos e milho modificado geneticamente. Um romance surpreendente sobre a odisseia hormonal, amorosa e intelectual que é essa fase da vida.

Vamos admitir que essa sinopse chama bastante atenção e nesse quesito a editora Intrínseca se saiu muito bem. A qualidade gráfica do livro é incrível, belíssimo, mas ele só peca em uma coisa: a história. Eu demorei seis dias para ler essa coisa e falo com todas as palavras que me arrependo de todo o tempo que desperdicei com ele. Vou tentar expressar meus sentimentos.

Adolescentes sabem que essa fase [adolescência] é bastante confusa. Mesmo ao longo da vida, estamos sempre sujeitos à experiências, mas parece que é nessa fase que um número maior de coisas acontecem para moldar nosso caráter e nosso eu. Gostamos de fumar? E de beber? Usamos drogas? Gostamos de garotos ou de garotas? O autor, Andrew Smith, de certo modo conseguiu expressar bem certas dúvidas que os jovens se perguntam e também deu uma grande atenção às explosões de hormônios que os rapazes têm. Tudo isso em meio aos momentos inicias de um apocalipse diferente.

Pra início de conversa, vou explicar duas coisas: o título do livro e um erro na sinopse. Quando você lê o título e a sinopse você pode pensar “ué, mas porquê Selva de Gafanhotos se os monstros são louva-a-deus?”, ou algo do tipo. Dentro da história, Selva de Gafanhotos é o nome de um terreno atrás do Shopping de Ealing, batizado por Robby e Austin. É nesse terreno que os garotos fumam, conversam sobre a vida e andam de skate. E também é nesse terreno que os meninos são agredidos por um grupo de rapazes da Herbert Hoover High School, pelo simples motivos de Robby e Austin aparentemente serem “boiolas”. Bom, agora explicando a segunda coisa, o erro na sinopse: não são Robby e Austin que libertam o exército de louva-a-deus, são esses garotos da Herbet Hoover Hish School.
Pensar em mim e em Robby viajando para a Suécia me deu tesão.
Os rapazes sabem que tesão é uma coisa complicada. Nós nunca sabemos o que vai nos deixar excitados. Às vezes o menor toque, um sopro numa área erógena, etc. Certo? Certo. O autor desse livro conseguiu transformar o ato se sentir tesão em algo irritante e até inverossímil. Austin é um garoto um tanto frustrado com sua sexualidade – ele é apaixonado por sua namorada, Shann, e pelo seu melhor amigo, Robby; ele não sabe como isso é possível e nem tem certeza se é hétero, gay ou bissexual. O garoto sente tesão com tudo. E quando eu digo tudo, é tudo mesmo. Com coisas aceitáveis (imaginar um ménage, imaginar transar em um local escuro, imaginar transar em estabelecimentos comerciais), mas também sente tesão com coisas absurdas.

O tal triângulo amoroso-sexual que a sinopse expõe é esse mencionado no parágrafo acima (Austin, Shann e Robby). Ao longo de todo o livro, Austin mostra sentimentos dúbios pelos dois. Ele namora Shann, mas mesmo assim é atraído por seu amigo que é homossexual. Robby também mostra bastante interesse em Austin, em atos, mas principalmente em palavras.

Outro fato importante sobre Austin é que ele se considera um historiador. O livro é todo contado por ele, em primeira pessoa. Ele tem uma pilha de cadernos onde escreve sobre sua história. Vamos parar e analisar um pouco as coisas e qual a ideia de um livro escrito em primeira pessoa. Tanto serve para dar uma conexão mais pessoal entre o personagem que conta e o leitor, quando a ideia de que o narrador só sabe aquilo que vê ou ouve ou lê. Ou seja, nem tudo vai ser real ou o que aconteceu de fato. Sabemos também que a História tem muitas lacunas que são preenchidas por historiados e pela conveniência. Sabendo disso, eu pergunto: como Austin, um garoto de 16 anos, de Iowa, sabe o que está acontecendo naquele exato momento na Alemanha e o nome das bolas dos vice-presidente dos Estados Unidos, nos contar isso com uma boa riqueza de detalhes? É meio absurdo. O autor até tentou dar uma explicação para isso, mas uma explicação tão ruim quanto a história que ele escreveu.
A família de Paavi Seppanen veio da Finlândia. Paavi significa pequeno. Paavi também morreu na explosão (...) Paavi Seppanen tinha vinte e seis anos (...)
Quando você se dispõe a ler um livro, você também tem que, de certo forma, aceitar o estilo narrativo de um autor. Alguns são prolixos, alguns não perdem tempo com detalhes, outros dão spoilers dentro da narrativa. Andrew Smith não usa pronomes, substantivos, verbos auxiliares, etc. Como você notou no quote acima, ele repetiu a palavra Paavi 4 vezes (isso é só um trecho do parágrafo), quando poderia ter usado outras palavras para substituir o nome. (Nesse parágrafo, ele repete a palavra Paavi 11 vezes, sem motivo algum) Não é que ele não use tais classes gramaticais, lógico, mas é que ele repete tanto os nomes, tanto, que foi esse o maior motivo da raiva que sinto por esse livro. É claro, esse é o estilo narrativo do livro, mas cansa. Depois da parte 2 do livro, eu já estava exausto e nem lia mais os nomes ou pulava os sobrenomes ou eu mesmo juntava as frases sem precisar ler tudo.

Além de toda essa repetição desnecessária que poderia ser cortada e deixar o livro com umas 250 páginas fácil, Andrew escreve seus diálogos sempre que de algum modo um personagem diga “Hum”. Meu Deus, que eu ficava para arrancar os cabelos sempre que Austin ou Robby diziam Hum. Eles não sabem responder a uma pergunta de maneira completa. Sem contar que os diálogos são ridículos, não chegam nem a serem engraçados. Eles dizem coisas nada a ver nos momentos de tensão.

Mas sobre a história em si, ela não conseguiu me atrair. Eu me dispus a lê-lo esperando algo espetacular, uma ficção científica bastante interessante, mas o que li foi um monte de coisas "trepando, cagando, tesão, Hum, Robby Brees" e cenas que poderiam ser cortadas, cenas que não tem um pingo de suspense, que não fascinam. Ele livro só não beira o ridículo, porque ele é o ridículo. O autor conta a história do que levou ao apocalipse e não o apocalipse já instalado, o que foi legal. Ah, e como se não bastasse a história ter acabado de um jeito super sem graça, ele achou o que escrever num epílogo...

Esse é um livro 8 ou 80. Ou você vai adorar ou, como eu, vai detestar. Fui olhar no Skoob e teve gente que deu 5 estrelas, que favoritou... Ou eu li o livro errado ou não sei. A narrativa é cheia de coisas que dão raiva e que cansam. Eu juro que a única coisa que gostei de tudo foi as explicações sobre os experimentos que resultaram nos louva-a-deus gigantes.

A linha cronológica que Austin usa para contar a história é boa, vai e vem no tempo, mas em muitos momentos cansa, porque ele vai repetindo os fatos como se nossa memória fosse péssima. E por algum motivo que ainda não entendi, esse livro me lembrou o filme Malditas Aranhas.

Fica aí então a dica (?) de um livro para quem realmente não tem mais o que ler (e para quem não tem mais o que escrever).

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