7 de janeiro de 2016

OS OITO ODIADOS (Quentin Tarantino; 2015)

os oito odiados
Esse é o primeiro filme de Quentin Tarantino que lhes trago, mas espero que não seja o último! O longa nos leva a um western onde o inferno é frio, o xerife é um perfeito bajulador e os tiroteios são ideológicos: onde as armas são as bocas e as munições são as palavras.

SINOPSE

Durante uma nevasca, o carrasco John Ruth está transportando uma prisioneira, a famosa Daisy Domergue, que ele espera trocar por grande quantia de dinheiro. No caminho, os viajantes aceitam transportar o caçador de recompensas Marquis Warren, que está de olho em outro tesouro, e o xerife Chris Mannix, prestes a ser empossado em sua cidade. Como as condições climáticas pioram, eles buscam abrigo no Armazém da Minnie, onde quatro outros desconhecidos estão abrigados. Aos poucos, os oito viajantes no local começam a descobrir os segredos sangrentos uns dos outros, levando a um inevitável confronto entre eles.

 A QUALIDADE EXCEPCIONAL DOS DIÁLOGOS

os oito odiados

Não seria um filme de western (mais comumente chamado de ‘filmes de faroeste’) se não houvesse as famosas e tão queridas cenas de tiroteio. Mas cá entre nós: Tarantino já provou por A+B que faz do simples o arrojado. Como naquela sequência tensa e empolgante em Bastardos Inglórios (2009) – no bar, onde todos são metralhados -, Os Oito Odiados é inteiramente nesse clima.

Como o filme se passa em apenas um ambiente, com oito estranhos se aturando, a genialidade do diretor fica à cargo dos diálogos. São sentenças incríveis onde os personagens entram em conflito ideológico: liberais contra conservadores. O negro, personagem de Samuel L. Jackson é destratado por quase todos, tanto pela cor da pele quanto pela sua reputação.

OS OITO ODIADOS... MAS EXTREMAMENTE COMPETENTES

os oito odiados

O casting do filme não poderia ser melhor. Kurt Russell, Samuel L. Jackson e James Parks já trabalharam em filmes do gênero (como também em filmes escritos e dirigidos por Tarantino), então sabem como as coisas são.

Leia a resenha de ‘E Não Sobrou Nenhum’, de Agatha Christie, onde 10 pessoas são isoladas numa ilha e começam a morrer misteriosamente

Mais um filme em que Samuel L. Jackson trabalha com Quentin (eles já trabalharam juntos em Pulp Fiction e Django Livre), então não poderia sair algo menos que o brilhante. Sendo o protagonista da história, Samuel é um dos responsáveis pelo alívio cômico da obra, como também por ser um caçador de recompensas fodão, destaque em quase toda sua duração. Em contrapartida, a talentosa Jennifer Jason Leigh é deixada de lado – mesmo quando sua personagem tem um capítulo que deveria ser seu -, quase não falando e andando de lá para cá como um boneco.

Todos os personagens têm seus momentos, alguns momentos são mais longos e mais interessantes que outros, mas cada tem seu destaque e em seu devido tom.

UMA ATMOSFERA BEM CONSTRUÍDA, AGATHA CHRISTIE E O PODER DA OBSERVAÇÃO

os oito odiados

Já sabemos que quando enclausuramos várias pessoas num único lugar, coisa boa não sai, tenha o Big Brother como exemplo disso. Mas essa sensação de confinamento, isolamento costuma despertar um lado diferente nas pessoas. Na ficção, não costuma despertar um lado muito bom.

Esse isolamento, aliado a ideia de que alguém entre os oito está tentando libertar Daisy (Jennifer Jason Leigh), o conflito de ideias, e a simples presença de um negro, fazem com que cada um veja o outro como um inimigo, se tornando ariscos. O suspense vai crescendo ao longo dos capítulos do filme, criando uma atmosfera que faz com que o espectador espere qualquer coisa de qualquer um.

Esse isolamento me lembrou muito os livros de Agatha Christie, assim como as observações precisas de Marquis (Samuel L. Jackson) a respeito de muitos ali.

Leia a resenha de ‘Se Arrependimento Matasse’, de Alma Cervantes, suspense policial onde vários indivíduos estão confinados num hotel durante uma tempestade

São quase 3 horas de filme, não tendo como não ficar monótono em determinados momentos, as conversas entre os personagens ficarem entediantes e você se perguntar “já acabou, Jéssica?”. Mas mesmo assim, Quentin nos presenteia com uma comédia incrível. São inúmeros momentos engraçados, sacadas certeiras e humor negro, às vezes estando escondidos no subtexto.

MAIS UMA OBRA-PRIMA VISUAL QUE QUENTIN NOS ENTREGA

os oito odiados

Agora é hora de dar os parabéns para outra parte técnica do filme. Que maquiagem e figurinos incríveis! Dos casos de pele às dentaduras; da decoração do armazém aos cabelos e barbas. Como se não bastasse, temos alguns poucos momentos das locações exteriores, onde montanhas e florestas cobertas de neve são filmadas... breathtaking!

Não se preocupem com a belíssima violência gráfica que Quentin sempre nos reserva em seus filmes. Está lá! Tiros, tiros no rosto, tiros de espingarda e muito sangue esguichado e espalhado.

A trilha sonora não é algo que deva ser ignorada, porque é impecável e, em momento algum, parece ser forçada. É um casamento perfeito, como tudo nesse filme.

Mesmo se passando em um único lugar – um armazém – e em meio a uma nevasca, elementos consagrados do gênero western ainda aparecem: os já comentados tiroteios – com uma sangrenta cena no final, lógico -, a música tocada no piano dos salons, o xerife – ou quase isso. São elementos clássicos, mas que Quentin insere de uma nova forma.

the hateful eight

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