25 de outubro de 2015

[MÊS DO HORROR | LIVROS] O Exorcista - William Peter Blatty

Título Original: The Exorcist
Autor: William Peter Blatty
Editora: Agir
ISBN-13: 9788522013821
Número de Páginas: 336 páginas
Skoob: O Exorcista | Goodreads: The Exorcist
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Inspirado em uma matéria sobre o exorcismo de um garoto de 14 anos, o escritor William Peter Blatty publicou em 1971 a perturbadora história de Chris MacNeil, uma atriz e mãe que está filmando em Georgetown e sofre com as inesperadas mudanças de comportamento de sua filha de 11 anos, Regan. Quando a ciência não consegue descobrir o que há de errado com a menina e uma nova personalidade demoníaca parece vir à tona, Chris busca a ajuda da Igreja no que parece ser um raro caso de possessão demoníaca. Cabe a Damien Karras, um padre da universidade de Georgetown, salvar a alma de Regan, enquanto tenta restabelecer sua fé, abalada desde a morte de sua mãe. Em O exorcista, Blatty conseguiu dar ao demônio a sua face mais revoltante: a corrupção da alma de uma criança. A jovem Regan é, ao mesmo tempo, o mal e sua vítima. Ela recebe a pena e a revolta dos leitores e espectadores em doses equivalentes e, mesmo quarenta anos depois, seu sofrimento e o abismo entre o que ela era e o que se torna continuam nos atormentando a cada página, a cada cena. Até, enfim, descobrirmos que não se trata apenas de uma simples história sobre o bem contra o mal, ou sobre Deus contra o demônio, mas sobre a renovação da fé.

Esse é aquele tipo de história que você não sabe como começar a comentar. O Exorcista (William Friedkin, 1973) é um filme que sempre me assustou e é um ícone da cultura pop e do terror. Quem não conhece a icônica cena da menininha virando a cabeça completamente para trás ou vomitando jatos verdes, etc? É um filme que assusta e que perturbar. O livro foi uma das primeiras escolhas para o Desafio Halloween Literário e ainda estou de queixo caído com a qualidade dessa história. Mas partamos do princípio.

O livro é dividido em 4 partes, mais um epílogo, onde vamos acompanhar a evolução desse conjunto de doenças mentais que assolam a jovem Regan MacNeil. Digo “doenças”, pois essa é a maior discussão do livro, talvez. Desde o início da obra, William faz questão de nos mostrar a inocência e a meiguice de Regan. Ela é o tipo de filha que todo casal gostaria de ter: sempre alegre, amorosa, brincalhona. Regan e Chris tem uma relação muito bonita de se ler. E são essas imagens que vão sendo destruídas ao longo do texto. O pai de Regan não aparece em momento algum da obra, mas vez ou outra ele é mencionado, Chris liga para ele; mas a relação dos dois não é nem um pouco boa.

Chris é uma atriz conhecida, bonita e que está em Georgetown para as gravações de um novo filme. Um dia ela recebe o convite de dirigir um filme, o que seria um grande salto na sua carreira dentro da indústria do cinema. O nome do filme que ela dirigiria é “Esperança”. Ela não está muito certa de dirigir isso ou não e é quando Regan vai piorando, que ela deixa totalmente de lado essa oportunidade. Vez ou outra, ela diz que “perdeu a Esperança”. 
[...] Mas Chris temia que a filha estivesse reprimindo sua raiva e pesar e que, um dia, a barragem fosse derrubada e suas emoções acabassem aparecendo de um modo desconhecido e prejudicial. [...] — página 47
Na mesma casa em que moram Chris e Regan, mora um casal de empregados (Willie e Karl) e a secretária de Chris, Sharon – uma moça muito interessada em esoterismo. Para quem já conhece a história e começa a ler o livro, vê aqui e ali certos easter-eggs escritos pelo autor, já prevendo o que acontecerá com Regan. Chris é uma mulher ateia e que não deu nenhuma criação religiosa para a filha. Em contraste a isso, temos o padre Karras, um homem que acabou perdendo a sua fé e é tragado para toda essa loucura que vem a ser a vida dos MacNeil.

Um dia, Chris nota barulhos muito estranhos vindos do sótão da casa e pede para Karl pôr ratoeiras. Apesar de pôr as ratoeiras, os barulhos não param. Chris também começa a notar que alguns móveis no quarto de Regan estão fora do lugar, coisas estão desaparecendo, um vento frio sopra no quarto na menina e, vez ou outra, a menina comenta sobre um amiguinho imaginário que ela tem: o capitão Howdy. Chris acha estranho esse nome, já que o nome do pai de Regan é Howard. Chris pensa que a filha criou esse amigo imaginário como forma de suprir a falta do pai. Regan também começa a ficar calada e distante.
Assim como o brilho breve dos raios de sol não é notado pelos olhos de homens cegos, o começo do horror passou despercebido; com o guincho do que ocorreu em seguida, o início foi, na verdade, esquecido e talvez não relacionado de forma alguma ao horror. Era difícil saber. — página 21
Depois de alguns eventos bastante significativos, Chris resolve levar Regan para clínicas de tratamento psiquiátrico. Os diagnósticos são os mais variados possíveis: esquizofrenia, transtorno de dupla personalidade e até possessão sonambuliforme. E é aqui que o livro fica ainda mais interessante. Ao passo do que podemos muito bem dizer que a menina está possuída, o autor insiste em explicar cada um dos eventos relacionados a Regan de forma médica. A força, os palavrões, a cama balançando, os contorcionismos. Para a maioria, as explicações servem direitinho, mas para outros eventos, as explicaçãos parecem extremamente forçadas. E os diagnósticos vão só mudando ao longo do que o quadro de Regan vai piorando. Há um momento em que Chris até se pergunta se passou alguma coisa para a filha.

Outra discussão muito importante que o autor propõe é: até que ponto, o quadro de Regan foi levado até o limite pelos que cuidavam da menina? Parece muito conveniente culparmos apenas um livro de bruxaria que a menina leu, um tabuleiro de ouija, mas será que todos os tratamentos a que Regan fora submetida, todos os medicamentos, a tensão que se criou entre as pessoas da casa não influenciou na piora do quadro?
“[...] A chance de cura é pequena, na minha opinião, mas ainda assim é uma chance.”
“Pelo amor de Deus. O que é?”
“A senhora já ouviu falar em exorcismo, sra. MacNeil?” — página 167
A ideia do exorcismo chega como um joguete psicológico. Até então, é dito que todos os sintomas de possessão demoníaca que Regan apresenta são decorrentes de uma sugestão psicológica: a menina leu um livro e ficou impressionada com tudo aquilo e começou a tomar para si. Já que a menina acredita estar possuída, talvez a única cura seja um exorcismo, dessa forma fazendo com que menina acredite que o demônio saiu de seu corpo e fique boa. É então que entra o padre Karras: um jesuíta que trabalha como psicólogo na Universidade de Georgetown.

Como plano de fundo dessa história, temos mais duas coisas: o assassinato do diretor do filme que Chris estava participando, Burke Dennigns; e algumas profanações que estão acontecendo em algumas igrejas e que podem estar relacionadas a cultos satânicos, à missa negra. Essas duas coisas estão sendo investigadas pelo chato detetive Kinderman.

Não tem como descrever a experiência que é O Exorcista: é um livro com um terror que faz gelar, que faz pensar algumas coisas importantes como fé e família, nos mostra um lado diferente dos padres, mostra como criar uma boa atmosfera e desenvolvê-la, tudo isso numa narrativa poética, crua, cheia de nuances.
Em 1973, depois de gravações que podem ser consideradas, no mínimo, amaldiçoadas, o filme O Exorcista, dirigido por William Friedkin foi lançado. O roteiro do filme foi adaptado pelo próprio William Peter Blatty, fazendo um trabalho maravilhoso. O filme não é menos do que espetacular e perturbador, mas ainda assim, não supera a graciosidade do livro.

Linda Blair destrói com sua atuação. A moça fez um trabalho incrível interpretando Regan MacNeil. A maquiagem usada na menina é espetacular e a deixou com a aparência acaba que Regan tem. A impressão que eu tive de Karl era de um homem muito mais novo, alto e com um porto físico mais atlético que o de Rudolf Schündler na época do filme; assim como pensei que Karras fosse pouco mais velho.

Algumas partes sobre a vida pessoal de Karl foram cortadas do filme, o que não atrapalhou o andamento e a fluidez da história, já que eram cenas que não importavam para a trama. Além disso, as investigações de Kinderman (Lee J. Cobb) sobre o assassinato de Burke Dennings (Jack MacGowran) são resumidas a míseros 5 minutos, no máximo. O filme é realmente só sobre uma menina que está possuída e ainda há isso: apesar de darem explicações sobre o estado de Regan, não há aquela dúvida sobre se o que está acontecendo com Regan é uma possessão ou uma doença mental.

Não vou falar das inúmeras atrocidades que aconteceram nos sets de gravações desse filme, já que há vídeos no Youtube que falam sobre isso, mas fica aqui a ressalva: foram gravações para lá de tensas!

Classificação do livro: 5 estrelas
Classificação do filme: 4 estrelas

[+] Veja também os seguintes links relacionados:
666, O Limiar do Inferno – Jay Anson;
Coração Satânico – William Hjortsberg;
A Ilha do Dr. Moreau – H.G. Wells;
Cinema #3: A Profecia (1976


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2 comentários:

  1. Ótima crítica como sempre. Eu ainda não tive o prazer de pegar o livro. Mas tenho certeza que supera o filme. Sou muito fã do filme, foi um dos mais aterrorizantes que assisti na minha adolescência. Ficou muito bom o post. Abraços.

    Amantes por Livros e Filmes

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    Respostas
    1. Obrigado, Clebinho!
      'O Exorcista' é uma adaptação mais que incrível e faz jus a toda a notoriedade que lhe é cabido. Recomendo você dar uma lida no livro. Tenho certeza que vai gostar.

      Abraços!

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