30 de agosto de 2015

[RESENHA + LIVROS] Amaldiçoado (antigo O Pacto) - Joe Hill

Título Original: Horns
Autor: Joe Hill
Editora: Editora Arqueiro
ISBN-13:  9788580413595
Número de Páginas: 320 páginas
Skoob: Amaldiçoado | Goodreads: Horns
Comprar: Saraiva, Submarino, Livraria Cultura
Ignatius Perrish sempre foi um homem bom. Tinha uma família unida e privilegiada, um irmão que era seu grande companheiro, um amigo inseparável e, muito cedo, conheceu Merrin, o amor de sua vida. Até que uma tragédia põe fim a toda essa felicidade: Merrin é estuprada e morta e ele passa a ser o principal suspeito. Embora não haja evidências que o incriminem, também não há nada que prove sua inocência. Todos na cidade acreditam que ele é um monstro. Um ano depois, Ig acorda de uma bebedeira com uma dor de cabeça infernal e chifres crescendo em suas têmporas. Além disso, descobre algo assustador: ao vê-lo, as pessoas não reagem com espanto e horror, como seria de esperar. Em vez disso, entram numa espécie de transe e revelam seus pecados mais inconfessáveis. Um médico, o padre, seus pais e até sua querida avó, ninguém está imune a Ig. E todos estão contra ele. Porém, a mais dolorosa das confissões é a de seu irmão, que sempre soube quem era o assassino de Merrin, mas não podia contar a verdade. Até agora. Sozinho, sem ter aonde ir ou a quem recorrer, Ig vai descobrir que, quando as pessoas que você ama lhe viram as costas e sua vida se torna um inferno, ser o diabo não é tão mau assim.

Sendo minha primeira leitura de Joe Hill, Amaldiçoado (antigo O Pacto) é um livro que me surpreendeu bastante devido a sua premissa. A história pode até ser classificada como terror ou thriller, mas para mim não passa de um drama com pinceladas sobrenaturais. O sobrenatural, devido aos chifres e todas as suas habilidades deixam a obra engraçada e mais divertida de ser lida e fugindo do clichê (em determinados momentos). Hill foi bastante cuidadoso montando sua obra: desde a escolhas dos nomes até a organização do texto em suas 5 partes.

Quando Ig acorda com chifres nascendo de sua cabeça, ele logo pensa que se trata de um tumor, um câncer. Ao ir no consultório médico, ele percebe os primeiros sinais do que agora é capaz de fazer: quando as pessoas veem os chifres, elas sentem necessidade de contar seus maiores pecados (trair o marido, o desejo de matar a própria mãe, renegar o próprio filho) para Ig; quando Ig toca nas pessoas, ele vê, como num filme em sua mente, os maiores segredos delas; as pessoas não lembram dos chifres e se esquecem de terem falado com Ig depois de um tempo. Ao longo do livro, claro, os poderes de Ig vão aumentando, quando ele começa a se aceitar como encarnação do próprio Diabo. Controle da mente, forte persuasão, mudar a voz, regeneração por meio do fogo. Mas fica a dúvida do que Ig fez para merecer tais chifres.
"Uma única serpente não tinha acatado a ordem e o seguiu até as ruínas. Contorcia-se impacientemente na frente dele, uma pequena tira elástica, delicadamente rajada, olhando para cima com o mesmo olhar carente e excitado de uma fã debaixo da sacada de um astro do rock, esperando ser vista e reconhecida."
Cobras. Aquele animal que tentou Adão e Eva no Jardim do Éden. Vez ou outra, Ig vê cobras na fundição onde se esconde. De repente, ele percebe que as cobras, os servos mais leais do Diabo, estão ao seu dispor para fazer o que ele bem mandar. Tratando-as como discípulos apaixonados, Ig chega até a dar um sermão para seu público sobre pecado e vontade divina.

Além de todas as comparações ao longo da narrativa com o inferno e com o Diabo, o autor acabou fazendo brincadeirinhas (?) quando escolheu certos nomes para os personagens ou para algumas coisas na obra. O nome Ignatius em latim significa ardente, inflamável, parecido com fogo. Merrin não é nada mais que uma outra maneira de dizer Mary... E quem foi a Maria mais conhecida da história do catolicismo? Gideão, cidade onde a história se passa, é o nome de um juiz mencionado na Epístola aos Hebreus, descrito como um homem cheio de fé e do Espírito Santo. Ainda é mencionado um tal de Acampamento Galileia. Galileia é o lugar onde Jesus morou por cerca de 30 anos, e obrou o milagre de dar visão a um cego... E não foi mais ou menos isso que os chifres fizeram com Ig?!
"O médico estudou os chifres; rugas de preocupação marcaram sua testa:
– São chifres.
– Sei que são chifres."
Tendo Merrin – mesmo morta – como o centro de tudo o que acontece na história, o autor decidiu dividir o livro em 5 partes, com exatos 10 capítulos cada. 3 partes dessas seguem Ig no tempo presente da obra, enquanto as outras duas servem para mostrar o passado. Como era a relação de Ig com Merrin? Como era a relação do assassino com Merrin? A escrita vai mudando de dinâmica para engraçada; de dramática para romântica; de angustiante para aterradora, absurda. E, assim como o pai, Joe Hill têm a habilidade de satirizar, ironizar momentos que deveriam ser tensos.

As confissões das pessoas para Ig são absurdas e recheiam as páginas de graça. É incrível também ver a evolução de Ig: quase um covarde no começo da história, para um completo Diabo, ao final. As descobertas das novas habilidades, a aceitação dos chifres (sem piadas!), o desejo de vingança por quem fez o que fez com sua amada Merrin, a dor que ele sente quando ouve coisas horríveis de seus familiares. Com tais habilidades, fica muito difícil não querer chifres tão poderosos quanto os dele e não agir da forma que ele age.

CURIOSIDADE: Judas Coyne, protagonista do livro Estrada da Noite, também de Joe Hill, é mencionado em dois momentos aqui na obra.

O ar onírico toma de conta do final da obra, quando Ig consegue sua vingança. A sensação que é passada ao se fechar o livro é a de primavera: renovação, a vida que segue. Escrevendo em diferentes tons em Amaldiçoado, Joe Hill nos propõe uma reflexão incrivelmente válida e importante para nosso ser: para nós, o que é o verdadeiro Inferno? Será que Inferno seria apenas uma dimensão com 12 círculos? Será que o Inferno não está tão próximo assim de nós? Inferno não seria perder uma filha com um câncer atípico; não seria ser acusado injustamente por todos de ter estuprado e assassinado sua própria namorada? No seu Inferno particular, você é o Diabo ou a alma torturada?

Mesmo depois de tanto tempo, eu me pergunto o que diabos fizeram com a história que Joe Hill escreveu quando resolveram passa-la para as telas. Lógico, não tem como passar Tim-Tim por Tim-Tim do livro, mas eles deixaram a história confusa, sem graça, descaracterizando os personagens. Não vou me estender muito sobre o filme, pois pretendo montar algumas diferenças entre os dois roteiros (do livro e do filme).

[+] Cenas preferidas do filme – contém spoiler:
• Terry tendo alucinações pela quantidade de drogas usadas;
• Terry acha o corpo de Merrin;
• Ig lê a carta que Merrin deixou para ele, na casa da árvore.

Classificação do filme: 2,5 estrelas
Classificação do livro: 4 estrelas

[+] Veja também os seguintes links relacionados:
Coração Satânico – William Hjortsberg;
666, O Limiar do Inferno – Jay Anson

2 comentários:

  1. Cara adoro esse livro, odeio apenas essas traduções de títulos bestas, o livro se chama Horns e acaba virando O Pacto, beleza, mas ai a mentalidade de sessão da tarde transforma em O Amaldiçoado!!! O próximo da lista é Estrada da Noite que vai virar O Terno do Fantasminha Caramada.

    Eu aconselho a partir logo para a leitura de Nosferatu, o Joe evoluiu demais para escrever o romance, e a explicação que faltou para o final de Horns você vai ter em Nosferatu que é lugar que ele junta tudo o que já escreveu com o universo do King e ainda solta referencias de mais livros que ainda nem foram lançados!!

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    1. Achei desnecessário mudar a tradução do nome.

      Eita, p*rra!
      Vou segurar Nosferatu um pouco e ler Estrada da Noite primeiro.

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