4 de outubro de 2015

[MÊS DO HORROR + LIVROS] Escuridão Total Sem Estrelas - Stephen King

 • Título Original: Full Dark, No Stars
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
ISBN-13: 9788581052755
Número de Páginas: 392 páginas
Skoob: Escuridão Total Sem Estrelas | Goodreads: Full Dark, No Stars
Comprar: Amazon, Submarino, Saraiva
Na ausência da luz, o mundo assume formas sombrias, distorcidas, tenebrosas. Em Escuridão total sem estrelas os crimes parecem inevitáveis; as punições, insuportáveis; as cumplicidades, misteriosas. Em 1922, o agricultor Wilfred e o filho, Hank, precisam decidir do que é mais fácil abrir mão: das terras da família ou da esposa e mãe. No conto Gigante do Volante, após ser estuprada por um estranho e deixada à beira da morte, Tess, uma autora de livros de mistério, elabora uma vingança que vai deixá-la cara a cara com um lado desconhecido de si mesma. Já em Extensão justa, Dave Streeter tem um câncer terminal e faz um pacto com um estranho vendedor. Mas será que para salvar a própria vida vale a pena destruir a de outra pessoa? E, em Um bom casamento, uma caixa na garagem pode dizer mais a Darcy Anderson sobre seu marido do que os vinte anos que eles passaram juntos. Os personagens dos quatro contos de Stephen King passam por momentos de escuridão total, quando não existe nada — bom senso, piedade, justiça ou estrelas — para guiá-los. Suas histórias representam o modo como lidamos com o mundo e como o mundo lida conosco. São narrativas fortes e, cada uma a seu modo, profundamente chocantes.

Sendo lançado aqui no Brasil em abril de 2015 e originalmente em 2010, o livro Escuridão Total Sem Estrelas reúne 4 contos, sendo eles: 1922, Gigante no Volante, Extensão Justa e Um Bom Casamento, tendo dois deles adaptações para a televisão em forma de telefilme, pelo canal Lifetime. São dois contos em terceira e dois contos em primeira pessoa, sendo o primeiro, algo entre uma carta de confissão e de suicídio.

Meu nome é Wilfred Leland James e esta é minha confissão. Em junho de 1922 eu matei minha esposa, Arlette Christina Winters James, e escondi o corpo em um velho poço.
E é assim que começa o livro, como também o primeiro conto, 1922. Wilf e Henry (pai e filho, respectivamente) assassinam Arlette (esposa e mãe), no verão de 1922. Arlette, uma mulher bastante obstinada, tinha a intenção de vender seus 100 acres de terra para uma empresa que transformaria aquele terreno num abatedouro de porcos. Wilf, dono de 80 acres de sua fazenda não queria que tal negócio fosse feito. Agindo de caso pensado e envolvendo seu único filho, mata Arlette e vê sua vida desmoronando. O protagonista escreve essa confissão anos depois, analisando suas atitudes, mas ele não se arrepende de ter matado sua esposa. O conto é o mais longo do livro e em certos momentos é bastante cansativo, pois Wilf roda, roda e, às vezes, não sai do lugar. Ele vai contando tudo em uma linha cronológica, mas há fatos que ele precisa contar que não fazem parte da sua trajetória, mas que influenciam nela. As diversas desventuras que ele passa depois que mata sua esposa, creio que nenhuma pessoa conseguiria lidar tão bem.

O personagem é do tipo que mais gosto: faz o tem que fazer, lidando com as consequências só quando elas estão em sua frente. E mesmo assim, de forma corajosa e de peito erguido. Sua personalidade vai mudando depois de um evento x e ele começa a enlouquecer. Numa escala de preferência, esse é o segundo conto que mais me agradou.
Tess não acreditava em vidas passadas, ou futuras — em termos metafísicos, ela achava que o que se via era basicamente o que existia —, mas não gostava da ideia de uma vida em que ela não fosse uma mulher baixinha, autora de histórias de mistério, de rosto delicado e sorriso tímido, mas sim um cara alto, com um boné grande protegendo sua testa queimada de sol e bochechas cobertas por uma barba grisalha (...)
Gigante no Volante, segunda narrativa da coletânea, conta a história dessa medíocre escritora de livros de detetive, onde suas protagonistas são uma associação de avós que fazem crochê. Tessa Jean é chamada de última hora para ministrar uma palestra numa cidade qualquer, num evento literário para algumas senhoras; na viagem de volta para casa, ela sofre um pequeno acidente com o carro, numa estrada totalmente deserta. Depois de algum tempo de espera, um motorista de aparência assustadora a ajuda... ou é o que ela achava que ele faria. Ao invés disso, ele a espanca e a estupra diversas vezes. Isso não é um spoiler, já que o autor fica nos dizendo isso todo o momento, até o fato ser consumado.

As cenas de violência são descritas daquela maneira Stephen King de escrever: pouca descrição, mas algo cru e preciso (não só nessa, mas como em todas as suas histórias, tanto contos quanto romances). Tessa é uma mulher frágil e mesmo escrevendo histórias onde há um certo nível de violência, ela não gosta de filmes ou livros com algo muito bruto. O mais interessante dessa história é o modo como a protagonista vai mudando seus pensamentos: passando de uma mulher inofensiva para uma mulher com sede de vingança. Não vou falar muito sobre ele, já que têm detalhes na resenha do conto e do filme. O link está lá embaixo.
— (...) Todo mundo precisa de uma extensão, sr. Streeter. Se você fosse uma jovem que adora fazer compras, eu lhe ofereceria uma extensão de crédito. Se você fosse um homem com um pênis pequeno, já que às vezes a genética pode ser cruel, eu lhe ofereceria uma extensão peniana.
A terceira – e melhor história das quatro -, Extensão Justa, contará sobre um pacto com o Diabo. Dave Streeter já é um homem de meia idade que está morrendo por causa de um câncer. Quando ele passa por uma estrada atrás de um aeroporto, ele se depara com um senhor gordo vendendo quinquilharias e decide parar e ver se o homem tem algo que lhe interesse. Entre filosofias e marketing, Dave descobre que o que George Odabi vende são extensões (no sentido literal da palavra): ele estica alguma coisa por determinado tempo, mas pede sempre uma quantidade de dinheiro razoável em troca. Dependendo da extensão, a quantia de dinheiro varia.

George acaba comprando uma extensão de vida, mas as coisas são mais complexas do que imaginava. Ele precisa passar sua desgraça para outra pessoa, uma pessoa que ele odeie. Quando o pacto é feito, a vida de Dave muda completamente e os médicos afirmam que é quase um milagre ele ter melhorado. A história é contada em terceira pessoa e é recheada de reflexões sobre a vida e sobre nossos maiores desejos, como também sobre sentimentos escondidos. Dave é um homem bom, seu único problema é a inveja. O modo como Stephen King vai mostrando como a vida é espetacular nesse conto, surpreende: é tão engraçado quando você para e analisa que uma pessoa está numa rodovia de coisas boas, enquanto outra só se afunda mais e mais na lama. Talvez não, mas creio que o autor quis provocar um pouco de catarse no leitor, fazendo que com sintamos compaixão (nos sintamos tocados) com as desgraças na vida do “inimigo”.
A única coisa que ninguém perguntava em uma conversa casual, pensou Darcy dias após ter encontrado o que encontrou na garagem, era: Como vai o casamento? As pessoas perguntavam Como foi o fim de semana?, Como foi a viagem para a Flórida?, Como vai a saúde? e Como vão as crianças?. E até mesmo: Como vai a vida, querida? Mas ninguém perguntava: Como vai o casamento?
Apesar de Um Bom Casamento ser uma história um tanto monótona, as reflexões que ele trás e também de onde veio a ideia dessa história, são coisas surpreendentes. No post que fiz sobre a análise do conto, falei um pouco sobre as reflexões iniciais que o autor propõe: você realmente conhece a pessoa com quem você vive, a pessoa que você namora? Você poderia dizer que um casal com mais de 30 anos de casamento se conhece completamente? Sim? E se não? Quando Darcy descobre que seu marido é um psicopata serial killer, sua vida inteira muda. Seu casamento perde todo o sentido, a vida que foi construída, a casa que serviu de lar para os dois, a criação dos filhos, perderam o sentido.

Assim como Gigante no Volante e 1922, essa é uma história inteiramente psicológica. King nos leva diretamente para o sistema límbico de Darcy e mexe com uma vareta lá dentro. O que ela vai fazer agora? Confessa tudo para a polícia enquanto há tempo? Como seus filhos vão ficar? Mas Darcy não tem tempo de fazer nada disso. No post em que falo mais sobre o conto (o link está logo abaixo), eu vou dizendo direitinho o que achei dessa história.

A primeira adaptação a ser lançada foi a de A Good Marriage (dirigido por Peter Askin), na qual Anthony LaPaglia dominou verdadeiramente o seu personagem. O filme é um tanto monótono, apesar de tudo. Em seguida veio Big Driver (dirigido por Mikael Salomon), estrelado por Maria Bello. O filme é uma adaptação quase que fiel do conto, onde certas situações só são bem entendidas depois que você tem um conhecimento prévio da história. A história também é um tanto monótona, mas é até mais divertida que o texto que lhe deu origem.

Em suma, não são filmes espetaculares pelo simples motivo de suas estórias originais não serem espetaculares. São filmes bons para passar o tempo e ver despretensiosamente. Para algo mais à fundo sobre tais, veja abaixo os links das suas críticas.

No fim do livro, King tece um comentário a respeito de como surgiram as ideias para escrever tais contos, sobre este livro em si e também sobre os “deveres” dos autores. Tudo isso num tom bastante crítico e à nível de curiosidade. Nada que acrescente nas estórias. Com exceção de A Good Marriage, todo o livro é sobre vingança: vingança contra a esposa tirana, contra seu estuprador e contra seu melhor amigo.

Levando em consideração o pacote completo, os 4 contos, o livro não é ruim. Mas se analisarmos cada um sozinho, Extensão Justa é a história que se sobressai, história essa que me fez dar mais uma estrela na classificação final. Não li os contos em ordem e creio que isso não interfira em nada, já que eles não são interligados.

Classificação: 4 estrelas

[+] Veja também os seguintes links relacionados:
A Good Marriage – Stephen King
Cinema #14: A Good Marriag
Big Driver – Stephen King + Film
Carrie, A Estranha – Stephen King

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