2 de janeiro de 2015

Cinema #17: The Normal Heart

Título Original: The Normal Heart
Ano: 2014 | Duração: 133 minutos
Direção: Ryan Murphy
Produção: Jason Blum, Dante Di Loreto, Scott Ferguson
Elenco: Mark Ruffalo, Julia Roberts, Jim Parson, Matt Bomer, Taylor Kitsch, Joe Mantello, Alfred Molina, Jonathan Craig, Finn Witrock
Nota: 4,5
Sinopse: 1981. Uma doença misteriosa se alastra pelos Estados Unidos, com alto grau de mortalidade: cerca de 50% dos infectados acabam falecendo. Como a imensa maioria é homossexual, ela logo é apelidada de "câncer gay" e, por preconceito, não recebe a devida atenção do governo norte-americano. Decidido a fazer com que as pessoas tomem conhecido sobre a epidemia causada pela AIDS, o escritor Ned Weeks decide ir aos diversos veículos de comunicação para falar sobre o tema. Entretanto, a raiva contida em suas declarações assustam até mesmo seus colegas na organização não-governamental que presta auxílio aos infectados. Ao seu lado, Ned conta apenas com o apoio da médica Emma Brokner, que também está alarmada com a gravidade da situação.



O filme, baseado na peça de teatro homônima, escrita por Larry Kramer, é quase como uma obra de arte que merece ser exposta num corredor de museu. Ao tratar de um assunto tão importante hoje em dia, mas numa época em que ele era muito mais abominado, a direção de Ryan Murphy fez chocar em muitos aspectos, mas também fez muitos chorarem e sim, com bons e lindos motivos.

1981, nos Estados Unidos, não era uma época muito boa para ser “diferente da maioria”. Gay (ou lésbica), negro, judeu, pobre, etc. Muitos grupos sociais eram censurados. Pare um momento e busque pelas lutas dos direitos civis, um ponto marcante na história mundial. É nesse período em que somos inseridos ao assistir The Normal Heart. A luta pelos direitos civis, os movimentos de contracultura, a liberdade sexual e, infelizmente, o boom da AIDS. O foco central do filme é a comunidade gay e como ela foi abalada desde essa época. Ao longo de todo o filme, é nos mostrado o esforço que os gays tiveram ao protestar e conseguir serem identificados, conseguirem uma lei ou outra a seu favor. É nos mostrado também a forma libertina como alguns deles viviam (sexo em locais públicos, orgias), mas também é ressaltada em momentos muito importantes do filme que muitos gays viviam com medo naquela época. Não medo de sofrerem agressões, mas medo de se exporem. Se dizer gay era –e, muitas vezes, ainda é - um ato de coragem.

E então veio a AIDS. Ao infectar um membro do grupo onde Ned Weeks (Mark Ruffalo) está inserido, o vírus começa a se alastrar rápida e exponencialmente, pois, com a liberdade sexual, o pudor foi deixado de lado. Muitos outros gays foram infectados, mas sem os médicos entenderem como aquilo funcionava e os maiores alvos serem os homossexuais, a culpa caiu sobre quem? São inúmeras e fortes as cenas em que as pessoas olham para os gays infectados com nojo, além de os destratarem, ignorarem, insultarem.

Mas depois dessa aula de história social, vamos à parte técnica que não deixa a desejar em nenhum aspecto. O enredo foca todas as questões sociais que são necessárias para o desenrolar da história e para o aprofundamentos dos personagens. Não é a toa que cada protagonista tem seu momento específico de brilho e é quase impossível não sentir aquela vontade latente de aplaudir cada cena de destaque. Apesar do protagonista ser o arrogante Ned Weeks, as história dos outros personagens não são deixadas de lado. Cada personagem é bem destrinchado. O filme vai impressionar muito quando a quantidade de gays mortos por causa da doença começar a aumentar sem controle; quando começar a focar nos estágios da AIDS; quando os personagens queridos começarem a morrer; mas toda essa tensão vai sendo quebrada aos poucos com cenas românticas e delicadas. Sim, eu fiquei muito tocado com a cena de sexo entre os personagens de Matt Bomer e Mark Ruffalo. É incrivelmente linda, principalmente pelo fato de um deles chorar.

O que falar do elenco e suas atuações? Não há palavras para descrever. Toda aquela beleza de Uma Linda Mulher (1990) foi descartada para mostrar uma Julia Roberts crua, sem maquiagem, na pele da doutora Emma Brookner, uma mulher paraplégica que tem a tarefa de tratar de toda uma comunidade gay infectada. Mark Ruffalo dando um show e interpretando o líder ativista gay da trama, onde, para conseguir o que quer, até acusa o presidente os EUA de conspirar com a morte de todos os gays. Alfred Molina que interpreta o irmão advogado de Ned Weeks, Ben Weeks, um homem que não aceita que héteros e homossexuais são iguais, apenas com a diferença de orientação sexual. Tommy (Jim Parsons), um inocente ativista, mas com garra, devoção e paixão pelo que faz e por seus companheiros de luta. E ele, aquele ator que merece um bom número de indicações e premiações, Matt Bomer (Feliz Turner), por interpretar o par romântico de Mark, um jornalista gay, mas não assumido que acaba contraindo AIDS – esse, acaba sendo o estopim para muitas coisas na vida de Ned.

A maquiagem dos atores que interpretaram infectados é muito boa, também. Só pra constar: as gravações tiveram que parar um pouco para alguns atores perderem peso, como Matt Bomer que perdeu impressionantes 18 quilos e ficou extremamente esquelético. Pois bem, veja que passei todo o filme pensando que eram efeitos especiais. É muito dolorido se ver. Muito!

O filme recebeu inúmeras indicações a prêmios como o Golden Globes, Primetime Emmy Awards, Critics Choice Television Awards, PGA Awards, entre outros. O filme tem médias altas tanto no IMDB quanto no Filmow.

O filme é tão verídica e surrealmente lindo que, ao assistir algumas cenas para preparar essa resenha, meus olhos encheram d’água devido à forte carga emocional. Quando o assisti pela primeira vez, não demorou muito para meu emocional ficar bastante abalado. Só um filme com essa mesma temática me abalou tanto: Dallas Buyers Club (2013). E se você notar bem, The Normal Heart tem tons que se igualam muito ao filme de Jean-Marc Vallée.

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